Todos os anos, desde que foi implantado em 2004, milhares de estudantes de todo o país realizam o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, Enade. Seu objetivo é avaliar o desempenho dos concluintes dos cursos de graduação ofertados pelas Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras. Mesmo que a nota obtida no exame não exerça influência direta na obtenção do diploma desses alunos, isso não quer dizer que não seja de interesse das IES que elas se mantenham em um padrão elevado.
Se analisados corretamente e bem aplicados, os indicadores da educação superior brasileira, que levam em seus cálculos a avaliação Enade, podem ser aliados do sucesso das instituições de ensino e das práticas pedagógicas que envolvem os cursos de graduação.
O que são indicadores?
“Indicadores possibilitam conhecer verdadeiramente a situação que se deseja modificar, estabelecer as prioridades, escolher os beneficiados, identificar os objetivos e traduzi-los em metas e, assim, melhor acompanhar o andamento dos trabalhos, avaliar os processos, adotar os redirecionamentos necessários e verificar os resultados e os impactos obtidos. Com isso, aumentam as chances de serem tomadas decisões corretas e de se potencializar o uso dos recursos“.
Serviço Social da Indústria. Departamento Regional do Estado do Paraná. Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade.
Construção e Análise de Indicadores. / Serviço Social da Indústria. Departamento Regional do Estado do Paraná. Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade. – Curitiba: [s.n.], 2010.
Indicadores são variáveis definidas para medir um conceito, sintetizados em um índice, que é comparável entre localidades e grupos distintos (SESI 2010). O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, vinculado ao Ministério da Educação, INEP – MEC, é uma importante fonte de bases de dados, com informações relacionadas aos indicadores e índices educacionais do país, envolvendo tanto o ensino básico quanto o ensino superior.
No que diz respeito ao ensino superior, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, Sinaes, reúne dados e indicadores de avaliações de estudantes, instituições e de cursos, objetivando garantir um ensino mais homogêneo nas IES do Brasil, (SINAES). Esses dados subsidiam os processos de regulação, que compreendem Atos Autorizativos e Atos Regulatórios, tornando o credenciamento das IES, autorização e reconhecimento de cursos, bem como sua renovação de reconhecimento, dependentes do conceito institucional perante essas avaliações (INEP).
O Enade e a importância dos indicadores nacionais da Educação Superior
O Enade, previsto na lei nº 10.861 de 14 de abril de 2004, passa a integrar o Sinaes e traz consigo matrizes de provas baseadas em Diretrizes definidas por Comissões Assessoras de Avaliação, compostas por professores indicados pelo próprio INEP. A cada ano, o INEP, responsável pelo Sistema de Avaliação do Ensino, juntamente com o MEC, definem as áreas que serão avaliadas pelo ENADE, de média trienal, e os alunos avaliados serão os concluintes dos respectivos cursos relacionados às áreas indicadas naquele ano.
A avaliação ENADE tem estrutura construída por um componente de Formação Geral e outro de Conhecimento Específico, com questões discursivas e objetivas que representam diferentes pesos na nota final do estudante, calculada em uma escada de 0 (zero) a 100 (cem). A partir dessa avaliação, passam a compor indicadores de qualidade, como o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que avalia os cursos de graduação com notas de 1 (um) a 5 (cinco). Considerando essa escala, as notas 1 (um) e 2 (dois) são consideradas insatisfatórias, de maneira que fica a cargo da IES apresentar metas de melhoria, podendo sofrer sansões, e até mesmo ter seus cursos descontinuados, caso a situação se mantenha. O CPC, por sua vez, é um dos componentes do Índice Geral de Cursos (IGC), que busca avaliar a própria IES.
Os resultados por curso e por instituição são disponibilizados no site do INEP, onde é possível comparar os indicadores de todo o país. É possível dizer, portanto, que a manutenção de um curso de ensino superior depende em grande parte da avaliação de seus concluintes. Dessa forma, o sucesso e competitividade de uma IES perante o mercado está diretamente relacionado à tomada de decisões pedagógicas que levam em consideração o cenário da educação nacional e os indicadores Enade.
Quando levamos em conta os indicadores Enade, uma IES consegue ter como entrada, a cada três anos, o espelho do aproveitamento que aqueles concluintes tiveram da graduação. Caso as notas obtidas sejam sempre altas, a saída pode até ser de continuar o curso como está, mas o que acontece caso as notas estejam aquém do desejado?
Por mais que seja possível verificar online os cadernos e as respostas das provas, uma pessoa familiar com o meio pedagógico sabe que uma questão vai além do item que chega até o aluno. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) discriminam, em seus documentos, os conteúdos do saber curricular, as competências e o perfil esperado dos alunos concluintes, enquanto as Portarias Enade tratam desses parâmetros e de como serão avaliados em um ano específico. Por mais que essas informações, por si só, não componham uma prova, são o ponto de partida para as metas obtidas como saída da avaliação.
Um ano de Enade aponta os sucessos e falhas na graduação de uma turma, muitos anos apontam pontos fortes e dores do curso como um todo, qual será então o valor de um diagnóstico precoce?
O acompanhamento pedagógico dos alunos ao longo da graduação é uma medida preciosa para, não somente, tentar melhorar o conceito daquele curso, mas, principalmente, para melhorar a qualidade da graduação dos alunos. Por mais complexo que o ponto de partida possa parecer, algumas ferramentas pedagógicas vêm como maneiras de auxiliar coordenadores e professores nesse trabalho.
Como melhorar?
A primeira ferramenta, já citada anteriormente, é a análise dos componentes das matrizes de prova cobrados pelo Enade. Por mais que não se possa afirmar com muita antecedência como serão cobrados no ano de aplicação, o estudo das recorrências desses itens pode fornecer uma previsão da composição da prova.
O Perfil do Egresso, como o próprio nome dá a entender, é a referência do tipo de profissional que aquele curso busca formar. Já os Conteúdos, como são tratados pelas Portarias, definem os componentes curriculares da formação acadêmica que serão abordados. Finalmente, as Competências unem esses dois componentes em como é esperado que o aluno junte o seu Perfil e Conteúdo curricular para atuar em determinadas situações e resolver os problemas propostos.
A segunda ferramenta pedagógica vem aliada principalmente às Competências, é a Taxonomia de Bloom, uma classificação dos objetivos de aprendizagem. A Taxonomia parte das operações mais simples para as mais complexas, buscando destrinchar o nível cognitivo exigido para a resolução de um problema e avaliar o aluno quanto a ele. Dessa maneira, pode ser utilizada para compreender em que níveis cognitivos opera cada Competência, permitindo que estes sejam estimulados em situações-problema durante o processo de aprendizado.
Por mais que, muitas vezes, não seja feita de maneira consciente pelos educadores, ambas as ferramentas são constantemente utilizadas nas diversas maneiras de avaliar os alunos. O valor de uma análise pedagógica está em transformar essas ferramentas em indicadores que possam ser utilizados para tomar decisões e implementar metodologias que busquem desenvolver os alunos e sanar carências em busca de uma formação mais completa.